quarta-feira, 26 de maio de 2010

Te Deum

oh, Santo! santo, não castigue por misericórdia
este seu pirralho velho que fala pelos cotovelos
mete bedelho aonde não devia...
mas porém, Altíssimo, dai-me bons conselhos do santo Daime
saber deixar a vida me levar na manhã do primeiro dia,
direitinho, em bom menino ribeirinho, a Terra sem mal.

oh, Grande! santo afinal é vosso grande espírito
enquanto de porco é o espírito deste que vos fala
e rala pra não sucumbir no inferno verde amarelo de malária
escutai o grito aflito desta nossa varja estúrdia, cá embaixo
lá em riba, espingarito do Céu, no alto da vossa Glória.
Veja, pombinha branca do Divino,
a gente ficamos por fora da história mas a culpa, desta vez
não foi da cobragrande Boiúna e sim da falta de memória.

oh Luz do interior! Santo remédio da escravidão
abri as portas da prisão
acendei as lamparinas da nossa vida pra ela ficar bonita
haja clarividência na rota da libertação...
Vós, bússola rainha de todos os viventes navegantes,
mea guia de travessia da baía de todos os encantos,
plena escuridão de popa à proa da canoa
remos do pensamento: barco-rio, o sol à meia-noite
largo estirão sem tamanho, alagação...
fundo desconforme, remanso enorme
Na terceira margem a ilha encantada, a salvação.

É tudo ou nada nesta hora: relógio que não marca,
teodolito que não pode medir o grau... Só vós sabeis a direção.

oh Divino! desde menino jito acredito eu
ser vosso Tambor encarnado, bandeira coroada de fitas
por esta fé talvez águas grandes não me afogaram
a seca terrível de mim não deu vencimento
a fome pavorosa não me sujigou
o pior inimigo nem a tiro ou punhal não me assassinou na tocaia
Não cai na estrada quando já cria não poder dar mais um passo.
Embora havera eu de viver tontas vidas e morrer inúteis mortes.

Por isto, meo Santo
venho a pé até aqui pra vos agradecer no fundo do coração.
Vá desculpando alguma coisa: me tenha sempre na lembrança do Infinito.
Amém.