segunda-feira, 1 de novembro de 2010

carta aberta de mulher índígena para mulher branca eleita primeira Presidenta da República Federativa do Brasil

"TENHA MUITO CUIDADO, ELES PODEM DERRUBAR UM TRABALHO QUE VEM SENDO CONSISTENTE AO LONGO DESSES OITO ANOS, FALE MENOS QUE ELES E MOSTRE A QUE VEIO!"

Yakuy Tupinambá (Indígena do Povo Tupinambá de Olivença, Bahia expressa temor dos povos indígenas com relação ao governo (2011-2014).

Os amigos brancos tem sempre a pretensão de estar ensinando os índios e os negros a trilhar a chamada Civilização. Mesmo quando aprendemos a gostar da antropologia de um Florestan Fernandes, Darcy Ribeiro e outros para ficar só nos brasileiros; separamos o mundo dos "índios" do nosso velho e bom mundo brancarana! O governo do Estado da Bahia, caso ainda não tenha feito, deveria junto com a Presidenta Dilma Rousseff encaminhar novo relacionamento federativo com os povos originais e mais populações tradicionais da bahianidade, que encerra a negritude além das raízes africanas. O mesmo se aplica ao Pará, Amapá, Amazonas e outros estados amazônicos brasileiros.

De modo que a proclamada INCLUSÃO SOCIAL comece, exatamente, pela INCLUSÃO DOS MARGINALIZADOS NA HISTÓRIA DO BRASIL. É disto que trata este blogue remando sempre contra maré. Em meus trabalhos de vulgarização e democratização do conhecimento acadêmico insisto que foram os Tupinambás que conquistaram a Amazônia lusitana, não os portugueses que, entretanto, a colonizaram.

Acho importante a carta de Yakuy Tupinambá à Dilma Rousseff para conhecimento, inclusive, do ministro Juca Ferreira, baiano que com Gilberto Gil popularizou o Ministério da Cultura e agora cumpre importante missão internacional delegada pela UNESCO, dirigida pela diplomata búlgara Irina Bukova: uma conjuntura de fatos que interessa diretamente à revitalização da Cultura Marajoara e a expressão indígena da amazonidade.

Com a eleição da descendente de imigrante búlgaro na presidência do Brasil a UNESCO tem oportunidade de promover inédito encontro de culturas entre o novo e o velho mundo; enquanto a sociedade brasileira está sinalizando que o ciclo das Entradas e Bandeiras repousará à sombra dos museus para que a história nunca mais se repita (Belém-PA, José Varella Pereira - no dia de Finados, pensando na ressurreição do Kuarup).




Viva o povo brasileiro

--- Em sex, 22/10/10, Paulinha! Kalantã escreveu:


Dilma,



Não me contive, precisava expressar-me, não poderia ficar calada, como a maioria que se cala por medo ou vergonha de expressar seus sentimentos e desejos, por receio de não ser entendido.



Sou mulher, nordestina, baiana e indígena do Povo Tupinambá de Olivença – sul da Bahia, tenho 50 anos, sou mãe e avó, cheguei ao mundo quando iniciou-se o processo da ditadura neste território, e fui recebida pelas mãos de uma negra que experimentou o regime dos senhorinhos, pois havia nascido no século XIX, nasci em um município, hoje, emancipado, São José da Vitória – Bahia.



Fui criada pela minha avó paterna, indígena que nasceu em Olivença-Ilheús/BA, em 1896, desde aos 28 dias de nascida. Experimentei desde cedo o preconceito e a discriminação por sermos diferentes, fui rejeitada onde vivi e estudei quando criança, pois a escola era de não indígenas. Fui levada a freqüentar igreja, lugar onde conheci a hipocrisia pela primeira vez, nunca vi ambiente mais preconceituoso.



Findos da década de 90, meu povo consegue se reerguer, 2002, vem o reconhecimento oficial pelo governo federal, surge à luta pela demarcação do nosso território sagrado, provocando avalanches de distorções: jogo de interesses, calúnias e difamações através da imprensa escrita e falada deste país. Em 2003, meu pai, me pede para ajudar aos parentes a “tomar aquilo que um dia tomaram deles” palavras ditas por ele, atendo o pedido, em 2008, ele nos deixou.



Confesso-lhe, que muitas vezes sinto uma vontade danada de desaparecer, viver em um lugar que eu não ouça nem o galo cantar, por ver e ouvir tanta coisa sem sentido, pessoas narcotizadas, teleguiadas para serem massa de manobra apenas, fazer o que o PODER quer para se manter, também, sinto vontade com essa idade que eu tenho de ir passar um tempo com os Zapatistas no México, para aprender estratégias de lutas, não para usar armas e sim argumentos, mas também, não tenho nada contra a Senhora por ter participado do Movimento contra a Ditadura, eu acredito que se eu estivesse perto, estaria lado a lado com você, pois, sou contra a todo e qualquer tipo de Ditadura, seja Militar ou Civil, te admiro muito por isso e te conheço pouco, evidente, mas esse foi um dos motivos que passei a te admirar como mulher que és, ouvi em um dos Ministérios em Brasília que a Senhora é um “trator”, como eu gostei de ouvi isso, soou como música aos meus ouvidos, pois sei que nunca se renderá jamais te farão de massa de manobra, sei que és sensata e sabe muito bem o tamanho do problema que é este país, possuidor de uma mentalidade ainda colonialista, e por mais que o seu mandato durasse 20 anos, ainda ficaria muito por fazer.



Dilma permita-me chamá-la assim, quando adentrar aquele palácio chamado de Alvorada, faça-se por merecer, sabes muito bem o que significa essa palavra, portanto promova mudanças, um novo dia, o começo de uma nova era.



Precisamos de educação de qualidade para todos, não essa que está ai, maquiada, só para mostrar índices de alfabetizados, não essa que só favorece quem tem dinheiro, mas, sim uma escola que ajude a pensar, a questionar, liberte esse povo, Presidente! Vivemos encurralados, prontos para servir, somos o celeiro mundial, não somente, de produção de alimentos, bem como, produção de mão de obra barata.



Permita, que nós indígenas, possamos contar nossa história, para que o restante da população brasileira venha ser sabedora dos nossos conhecimentos e da nossa contribuição para a humanidade, não existe nenhum povo sem sabedoria, dar um basta nessa guerra que foi travada contra nos há 510 anos, vivemos em “campus de concentração de guerra”, tiraram a liberdade de um povo a força, cometendo atrocidades, e delimitam áreas que para nossa cultura é ínfima, por isso a desestruturação e degeneração do povo indígena, morremos por desnutrição, inanição, falta de socorro médico, pistolagem, etc. A educação e a saúde implantada nas aldeias indígenas promove o etnocídio, vem pronta do MEC, está longe de ser o modelo que precisamos. Os profissionais de saúde não respeitam nossa sabedoria milenar, nossas tradições. A religião está ainda hoje, cometendo os mesmos erros do período colonial, quando acessam nossas aldeias, A FUNAI, não cumpre o seu papel, ao contrário, tem implantado a discórdia nas comunidades, servindo de cabide de emprego, política de assistencialismo, corrompendo lideranças, distribuindo sementes fora de época de plantio, e muitas vezes com o prazo de validade vencido, distribuição de cestas básicas insuficiente para atender a demanda, e acaba por provocar divisões internas, o indígena não é mendigo, para que cestas básicas? Precisamos de oportunidades, de políticas sérias implantadas em nossas aldeias, precisamos estar presente de fato, na construção de um país mais justo, queremos viver com dignidade, ver os nossos direitos respeitados, queremos que nos ouçam, e queremos nossos territórios demarcados, homologados, desintrusados, e outros ampliados, é o sonho, sim, e daí quem não sonha em viver com dignidade sendo você mesmo? O que é sintetizado nas indústrias farmacêuticas e de cosméticos vem da nossa sabedoria, o que se come nas mesas do mundo inteiro, e ainda é saudável, sem modificação, quem experimentou primeiro fomos nós, quem cuidou do meio ambiente, que os invasores encontraram quando aqui chegaram e ainda cuidamos onde vivemos fomos nós, os Povos Da Floresta.



São tantas coisas, que precisam ser ditas, que tornariam essa carta quilométrica, mas quero me ater às questões atuais, ao seu pleito. Dilma, você está esquecendo-se do que se chama estratégia, também quem sou eu para me ousar tanto, mas, sou uma pessoa do povo, desse povo bem comum, mas, que nasci enxergando, e vejo sua campanha, sendo levada para o caminho obscuro que favorece aos nossos inimigos, os colonos. Ao invés do tom duro, de assuntos polêmicos, como por exemplo: gays, religiões, indígenas, MST, aborto, movimentos sociais ou organização social, segurança, etc., esses assuntos fogem da compreensão de muitos, pois não estão envolvidos com o todo, não se percebem dentro desse contexto, foram separados estrategicamente, para serem alvos fáceis da manipulação, da escravidão “branca”, e do enriquecimento de poucos. Por que não falar das proezas desse governo? Como:



Plataformas da Petrobrás, que estavam indo para Singapura, sucateadas, e hoje, ficam no Brasil, construídas aqui com tecnologia superior, são exemplos significativos, quantos pais de famílias estão empregados, e o que rende ao país?

Pagamento da Dívida Externa,

Crescimento econômico,

Visibilidade internacional

Construção e aberturas de novas universidades,

Pro-Uni,

Bolsa família sim, e por que não? Basta agora criar uma saída para que essas pessoas não precisem por muito tempo dessa assistência,

Escolas Técnicas, CEFETs, etc.

O direito a fala para todos,

O Programa Cultural do MinC, que vem abrindo oportunidades do brasileiro se reconhecer, e fortalecer sua identidade, possibilitando a unidade conviver com às diferenças,

Oportunidades de empregos, e conseqüentemente o aumento da renda familiar etc.





TENHA MUITO CUIDADO, ELES PODEM DERRUBAR UM TRABALHO QUE VEM SENDO CONSISTENTE AO LONGO DESSES OITO ANOS, FALE MENOS QUE ELES E MOSTRE A QUE VEIO!





O assunto segurança, esse não adianta vocês que se fizeram escolhidos para governar este sistema, ter idéias mirabolantes, não condizem com a realidade ainda existente. É mulher, tens sensibilidade, é sabedora que tudo isso se resume em falta de oportunidades para todos, e um processo excludente, que nos acompanha desde a invasão deste território, ou desde que o homem que se diz civilizado e cientificista se sobrepõe, em relação aos outros povos, outros níveis de conhecimentos, pois todos os povos possuem conhecimentos, que contribuem com toda a humanidade. Aqui para nós, o Povo Brasileiro, precisa de auto-estima, emponderamento, e conhecimentos que possibilite uma compreensão do todo, para se tornarem aguerridos!



Onde está à proposta de ensino de qualidade para todos, que coloque o Povo para pensar?

Onde está à saúde pública com acesso para todos, sem exceção de classes?

Onde está ás medidas de aberturas de novas frentes de trabalho?

Onde está o combate a droga, a fome e a pobreza? Ah, esse ai depende de toda essa estrutura funcionando – oportunidades para todos – daí às famílias se estruturam, a política terá mais seriedade e ás religiões cumprirão seu papel. Acredita-se!



Tens coragem, és forte, então lute para que a transformação aconteça e seus ideais sejam colocados em prática, de um país mais coerente e cidadão!



PERDEMOS MUITO NESTE GOVERNO, MAS RETROAGIR JAMAIS!


Yakuy Tupinambá (Indígena do Povo Tupinambá de Olivença)