quinta-feira, 27 de março de 2008

Conversa de compadre






Conversa de compadre é que vale quando a gente tem coisa séria a dizer. Chegando à casa do compadre, o visitante não carece ter pressa, há que se anunciar e tirar o chapéu da cabeça.Pois, é grande descortesia pegar gente de casa desprevenida: Ô de casa! O compadre ou a comadre devem dar licença, ralhar o cachorro que saiu a latir pelo terreiro empatando a passagem da visita: Pode vir! – mudando a voz, fala com o tinhoso – Passa já p`ra dentro, cachorro...
Conversa de compadre, pra ser direita; tem que ter pé e cabeça... Começa ao pé da orelha; termina, paresque, numa sentença e acordo. Todo mundo abancado a escutar, abana cabeça que sim. Ou sacode a dizer que não... Nunca se deve entrar na varanda e ir direto ao assunto. Mas, quanto! Ara, veja... Tem, primeiramente. que esperar o café quente e cheiroso que a comadre foi fazer na hora. Na ante-sala rola conversa fiada sobre as águas, a caristia, a última parada do comerciante da beira, famoso unha de fome.


Mas porém, Deus é grande. Ele tá vendo a traficância do branco pra enrolar o caboco! Lá no céu quando chegar o dia do danado, vai prestar conta com o Chaveiro de Nosso Senhor, carinhosamente chamado, aqui na terra, São Pedro Safadinho: Me diga, sô Fulano – o santo falando – quanta vez o senhor "errou" a matemática a favor da casa e deixou ribeirinho no ara veja? Vuncê sabia o que é, a tal "acumulação primitiva" da estória-geral, vulgo lucro do mais esperto?

O cara metido a besta, já meio enrascado co'a tabuada celestial... Ara, meo Senhor São Pedro! Me dê um desconto pelo amor de Deus e da Virgem de Nazaré padroeira do Grão-Pará... São Pedro coça a barba, franze a testa. O Diabo em riba ribanceira com binóculo e espingarda de atirar em ladrão de gado da Jebre, pai e mãe da febre; se ri a beça que nem jacaré amolando dente quando vê embiara na beira... Antão, um descontozinho, hen? – diz São Pedro – Tá vendo ali, aqueka Ilha do outro mundo? Lá está a fila do Desconto e do crédito em prestação. Vá depressa... Pois a cobra tá aumentando e a distância fica meia légua do Céu e meia légua do Inferno. Desconto no Céu não se pode dar, e tudo trans zan!... Em compensação, na taberna do Diabo o crédito está aberto, mas porém não tem hora certa pra terminar de pagar a prestação.
A risada sacode a sala justo na hora que a comadre vem com o charão de café. A saracura canta: aviso de que a maré quebrou e é tempo de ir aos finalmente. Coisa sobre a encomenda de açaí com preço combianado conforme o apurado. Isto é, conforme o resultado do preço dado na feira. Como é, compadre, pode ser ou está difícil? A comadre, dá um suspiro e se mete na conversa: É, Manel, que jeito?. Negócio fechado, depois da manhã na hora da maré.

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