domingo, 30 de março de 2008

Ver o Peixe

Rico é o povo que tem patrimônio natural e cultural comparável ao do nosso Estado do Pará, do Brasil sentinela do Norte; Amazônia fluvial e marítima. Por que, então, nossa gente é tão carente? Por que cada vez mais, enganados, vêm chegando pobres dos estados vizinhos e se tornam camelôs aqui ou vão em frente atravessar a fronteira? A velha história se repete. Como outrora, um certo capitão de navio Simão Estácio da Silveira escreveu panfleto “aos pobres do reino de Portugal”, a fim de aliciar casais de lavradores dos Açores com falsas promessas, lhes dizendo ser o Maranhão e Grão-Pará o paraíso na terra...

Aqueles pobres de Portugal, tendo caído na esparrela logo se fizeram maus para caçar e escravizar índios e não morrer à míngua. Mas, no transe louco, muitos colonos morreram, todavia, a bordoadas em mãos do “bom selvagem” e tremendão Tupinambá. Causa da revolta do cacique Pacamão, da aldeia de Cumã (MA) e assalto de Cabelo de Velha ao forte do Presépio, em 7 de janeiro de 1719. Começo da interminável discórdia do Pará velho de guerra. A qual, de novo num 7 de janeiro; fez eclodir a Cabanagem (1835-1840)... Quem tem medo de História? Se a verdade nos libertará (está no Evangelho).

Sem nenhum favor, o Ver-O-Peso é o portal dos portais amazônicos. Maravilha do turismo brasileiro (não sem certa ironia, em relação à cegueira que o Padre Antônio Vieira criticou no Sermão aos Peixes). Temos rio, estuário e mar às portas de Belém, às ilhargas do Oceano... O que falta para construir um grande Aquarium Amazonico na orla, de função turístico-cultural e educativa integrada á Estação das Docas?

Precisaria de uma vontade democrática firme, de mobilização do povo através da sociedade organizada. Haja um gesto significativo e, certamente, o País e a comunidade internacional reagirá proporcionalmente ao entusiasmo paraense.

Todavia, antes de mais nada, para enxergar claramente tal riqueza, carece primeiro ensinar a gente a ver o peixe a fim de distinguir o pescador. O ribeirnho deixado à margem da história, tal como, desde os anos de 1940, intelectuais amazônidas como Tó Teixeira, Jacques Flores, Pedro Tupinambá, Bruno de Menezes, Dalcídio Jurandir, Vicente Salles e mais outros começaram a professar, livremente, na popular Academia do Peixe Frito. O peixe vivo e nadando nos rios, lagos e mares da Biosfera é símbolo universal da cultura ribeirinha da Terra humana. Portanto, na Amazõnia, o casamento justo e perfeito entre natureza e cultura acontecerá, com certeza, quando a gente aprender a ver o peixe. E viajantes ou turistas se iniciarem ao espaço e tempo do trópico úmido, na universidade livre do estuário dos “sete mil rios” da Amazônia.

Por isto talvez, no aniversário da Cidade, o prefeito Duciomar Costa foi comemorar o acontecimento na feira do Ver-o-Peso a saborear, corretamente, o típico peixe frito da feira como exemplo da tradição que deve se repetir, todos os anos, por gregos e troianos.


No dia do aniversário da Cidade, o Ver-o-Peso também foi palco de programação para comemorar os 392 anos de “Belém da Amazônia”, a Feliz Lusitânia (Pará), filha da Nova Lusitânia (Pernambuco) e neta da velha Lusitânia na Península Ibérica. Todo este percurso dos caminhos marítimos teve por sustento o peixe nosso de cada dia. Para ser gratos aos infinitos cardumes que mataram a fome de nossos antepassados e ainda nos traz à meso o de comer, devíamos sempre comemorar o aniversário de Belém do Pará seguindo o bom exemplo do atual prefeito da Cidade.

Ele caminhou pela feira do Ver-o-Peso, a maior ao ar livre na América Latina; e depois de breves cerimônias de praxe, almoçou peixe frito e tomou açaí. Duciomar deixou recado e um pedido ao povo: "Belém merece receber como presente de seus moradores um bom tratamento. Cuidar de Belém significa cuidar dos muitos ambientes da cidade para contribuir com a manutenção da beleza e do bem-estar de seus moradores e visitantes", declarou. Palmas para o Senhor Prefeito, que ele merece!

Sobretudo, se ele como qualquer bom paraense almoçou peixe frito com açaí. Candidatura certa para a sesta e trégua no duro combate do dia. Aqui o vasto mundo beligerante deveria vir e aprender a fazer a paz e não a guerra que arruína a Terra da gente.

Pena que o atual Prefeito de Belém, filho da região do Salgado (Tracuateua, vizinha a Bragança) ainda não deu atenção direito à Academia do Peixe Frito. Pois – sem grito! – o Pará velho de guerra fica mais bonito quando come peixe com pirão de açaí. A ver o peixe, no Ver-o-Peso não se veria mais urubus e violência à toa. Por exemplo, o mercado do Peixe passaria a ser templo da gastronomia ribeirinha. O amigo pescador, sim, seria o ator cortejado. A vedete que nos faz favor de abastecer os finos e os populares restaurantes, ele ficaria famoso e satisfeiro. Melhor remunerado em seu trabalho.

Na comuidade, a família do pescador não ficaria isolada de educação à distância e as crianças não seriam contenadas a seguir o destino dos pais. Pois, aprendedno tudo sobre o peixe de A a Z, cedo ou tarde, acabariam sendo mestres e doutrores da Ciência do mar e rio, que se chama ictiologio e ocenografia. Tudo isto, a partir de uma singela Academia do Peixe Frito fórum e promotora do grande aquário amazônico sustentado por um centro de pesquisa e rede de estações coletoras ao longo da costa e rios da Amazônia.

Mas, a virada da Cidade que cresceu de costas para o rio; termianria por descobrir que o Ver-o-Peso também é mercado de Carne. Aí, já não haveria açougues à moda antiga. Mas, quiosques variados com churrasco de baby-búfalo a preços populares de acordo com um turismo responsável em comércio solidário e agricultura familiar. Por que não? Quem não confessa é porque não ousa deixar cair a máscara. Pois, a cultura popular carece de proteção e amparo, mas o povo merece aparecer melhor na foto de que simples e anônimo figurante de artistas bacanas.

Como dar sustentabilidade econômica ao centro histórico de Belém?

Oportuna reportagem de Aline Monteiro, jornal O Liberal 30/03/2008, indaga como valorizar o centro histórico de Belém. Desafio ao qual 50 estudantes de arquitetura da UNAMA sairam em campo em busca de resposta, sob supervisão de seus mestres na elaboração de diagnóstico dos bairros da Campina e da Cidade Velha.

A principal preocupação é com intervenções em espaços tais como Feliz Lusitânia, Ver-o-Peso e João Alfredo, depois de breve euforia, voltar a apresentar os problemas de sempre a curto prazo. Acham os orientadores, que “está faltando ver esses espaços dentro do contexto da cidade para saber que tipo de função devem ter”.

Diz a reportagem: “Paulo Ribeiro faz esse questionamento fundamental a respeito do centro histórico: 'Será que todas as funções que hoje se desenvolvem lá deveriam estar no centro? Por exemplo, o Ver-o-Peso é um entreposto de comercialização de pescado de dimensões nacionais. Há gente que vai ali para buscar peixe que será vendido em São Paulo, mas existe por isso uma circulação muito pesada de caminhões fazendo esse transporte, e sem um entreposto com condições sanitárias, com controle fiscal. Será que esse hoje ainda é o lugar mais adequado a esse comércio?“.

Qual o melhor presente de aniversário de Belém 400 anos?

O estudo dos 50 estudantes de arquitetura é digno de nota 10, no quesito político (não partidário, diga-se de passagem). Porque temos nós uma cultura fulanizante e patrimonial terrível. Explico, tudo gira em torno de fulano e beltrano se digladiando a saber quem é o bambambã do pedaço... O patrimonialismo nada tem a ver com patrimônio histórico e a coisa pública. Mas sim com o “meu pirão primeiro” imposto em priscas eras através do ultramar.
Trabalhos estudantis em equipe voltados às reais necessidades da cidade e da região, são novidade. Esses vão estimular vocações profissionais que serão um dia autoridades competentes. Longe de estrelismo e soluções miraculosas. De fato, nos faz falta ums cultura pública e profissionalismo de equipe com a cara paraense. Que universidade privada tenha destaque em gestão pública é sinal de que universidades públicas não dão conta do recado. Ou, talvez, os papíes estejam trocados.

No entanto, as costas largas do Governo (este que está aí, aquele que passou e o próximo saco de pancada que virá) – “entidade” paramitológica aparentada de curupira e matinta perera – faz cortina a uma elite complicada por complexo que o dr. Alfred Adler explicaria mais depressa do que Freud. O Pará é rico, o povo é pobre. Quem é o culpado? Sempre o governo, do tempo do Marquês de Pombal aos futuros Prefeito, Governadores e Presidentes da República... Sim, mas – que mal pergunte – quem faz o governo? O povo! Homem, essa! E quem faz o povo obrar dessa maneira? Será a culpa, afinal de contas, de Deus Nosso Senhor no céu, pois os senhores da terra não estão nem aí...

A história do Ver-o-Peso remonta à segunda metade do século XVII. Quando, em 21 de março de 1688, o governo colonial com capital em São Luís do Maranhão, decidiu apertar o controle alfandegário no Grão-Pará. Assim, foi criado posto fiscal para cobrar imposto – a casa do Haver-o-Peso. Isto é, da renda do posto. Simples estrutura, uma balança e um funcionário a zelar pelos pesos e medidas nas transações comerciais da época.

Decorridos 381 anos, o Ver-o-Peso se tornou mais importante na economia da região. Diariamente, nele giram recursos da ordem de de R$ 1,3 milhão; através de compra e venda de diversos produtos. Estima-se algo em torno de um milhão e meio de pessoas, entre consumidores e trabalhadores, circulando todo mês no Ver-o-Peso. Em média, 50 mil usuários por dia, segundo a Secretaria Municipal de Economia (Secon).

Centro histórico de Belém reconhecido, finalmente, pela Unesco com seu entorno natural nas ilhas como paisagem cultural da humanidade. Corredor ecolôgico costeiro do Pará e Marajó sendo reserva da biosfera: neste contexto, entreposto pesqueiro de primeiro mundo não longe da Vila da Barca... E o grande aquário amazônico integrado à Estação das Docas (necessariamente, todo movimento de carga do porto de Belém deveria passar para Vila do Conde). Assim, o Ver-o-Peso sem perder a tradição de nada, exceto pixé de peixe in natura e os urubus a fazer cocô sobre a cabeça de turistas distraídos na Praça Dom Pedro II; daria um salto de qualidade em geração de emprego e renda. Capaz de tirar camelô das ruas, apostar em treinamento profissional com a recosntrução e restauro de velhos prédios em ruída. Prédios que, a bem da verdade, hoje não servem como pardieiro nem à especulação imobiliaria. E, de repente, passariam a ser área nobre para agências de viagem, hotéis de charme, albergues, bancos, escritórios.

Então, senhores candidatos de 2008 com vistas a 2010 e eleições seguintes, habilitem-se!

Nenhum comentário: