domingo, 30 de março de 2008

Ver o Peixe

Rico é o povo que tem patrimônio natural e cultural comparável ao do nosso Estado do Pará, do Brasil sentinela do Norte; Amazônia fluvial e marítima. Por que, então, nossa gente é tão carente? Por que cada vez mais, enganados, vêm chegando pobres dos estados vizinhos e se tornam camelôs aqui ou vão em frente atravessar a fronteira? A velha história se repete. Como outrora, um certo capitão de navio Simão Estácio da Silveira escreveu panfleto “aos pobres do reino de Portugal”, a fim de aliciar casais de lavradores dos Açores com falsas promessas, lhes dizendo ser o Maranhão e Grão-Pará o paraíso na terra...

Aqueles pobres de Portugal, tendo caído na esparrela logo se fizeram maus para caçar e escravizar índios e não morrer à míngua. Mas, no transe louco, muitos colonos morreram, todavia, a bordoadas em mãos do “bom selvagem” e tremendão Tupinambá. Causa da revolta do cacique Pacamão, da aldeia de Cumã (MA) e assalto de Cabelo de Velha ao forte do Presépio, em 7 de janeiro de 1719. Começo da interminável discórdia do Pará velho de guerra. A qual, de novo num 7 de janeiro; fez eclodir a Cabanagem (1835-1840)... Quem tem medo de História? Se a verdade nos libertará (está no Evangelho).

Sem nenhum favor, o Ver-O-Peso é o portal dos portais amazônicos. Maravilha do turismo brasileiro (não sem certa ironia, em relação à cegueira que o Padre Antônio Vieira criticou no Sermão aos Peixes). Temos rio, estuário e mar às portas de Belém, às ilhargas do Oceano... O que falta para construir um grande Aquarium Amazonico na orla, de função turístico-cultural e educativa integrada á Estação das Docas?

Precisaria de uma vontade democrática firme, de mobilização do povo através da sociedade organizada. Haja um gesto significativo e, certamente, o País e a comunidade internacional reagirá proporcionalmente ao entusiasmo paraense.

Todavia, antes de mais nada, para enxergar claramente tal riqueza, carece primeiro ensinar a gente a ver o peixe a fim de distinguir o pescador. O ribeirnho deixado à margem da história, tal como, desde os anos de 1940, intelectuais amazônidas como Tó Teixeira, Jacques Flores, Pedro Tupinambá, Bruno de Menezes, Dalcídio Jurandir, Vicente Salles e mais outros começaram a professar, livremente, na popular Academia do Peixe Frito. O peixe vivo e nadando nos rios, lagos e mares da Biosfera é símbolo universal da cultura ribeirinha da Terra humana. Portanto, na Amazõnia, o casamento justo e perfeito entre natureza e cultura acontecerá, com certeza, quando a gente aprender a ver o peixe. E viajantes ou turistas se iniciarem ao espaço e tempo do trópico úmido, na universidade livre do estuário dos “sete mil rios” da Amazônia.

Por isto talvez, no aniversário da Cidade, o prefeito Duciomar Costa foi comemorar o acontecimento na feira do Ver-o-Peso a saborear, corretamente, o típico peixe frito da feira como exemplo da tradição que deve se repetir, todos os anos, por gregos e troianos.


No dia do aniversário da Cidade, o Ver-o-Peso também foi palco de programação para comemorar os 392 anos de “Belém da Amazônia”, a Feliz Lusitânia (Pará), filha da Nova Lusitânia (Pernambuco) e neta da velha Lusitânia na Península Ibérica. Todo este percurso dos caminhos marítimos teve por sustento o peixe nosso de cada dia. Para ser gratos aos infinitos cardumes que mataram a fome de nossos antepassados e ainda nos traz à meso o de comer, devíamos sempre comemorar o aniversário de Belém do Pará seguindo o bom exemplo do atual prefeito da Cidade.

Ele caminhou pela feira do Ver-o-Peso, a maior ao ar livre na América Latina; e depois de breves cerimônias de praxe, almoçou peixe frito e tomou açaí. Duciomar deixou recado e um pedido ao povo: "Belém merece receber como presente de seus moradores um bom tratamento. Cuidar de Belém significa cuidar dos muitos ambientes da cidade para contribuir com a manutenção da beleza e do bem-estar de seus moradores e visitantes", declarou. Palmas para o Senhor Prefeito, que ele merece!

Sobretudo, se ele como qualquer bom paraense almoçou peixe frito com açaí. Candidatura certa para a sesta e trégua no duro combate do dia. Aqui o vasto mundo beligerante deveria vir e aprender a fazer a paz e não a guerra que arruína a Terra da gente.

Pena que o atual Prefeito de Belém, filho da região do Salgado (Tracuateua, vizinha a Bragança) ainda não deu atenção direito à Academia do Peixe Frito. Pois – sem grito! – o Pará velho de guerra fica mais bonito quando come peixe com pirão de açaí. A ver o peixe, no Ver-o-Peso não se veria mais urubus e violência à toa. Por exemplo, o mercado do Peixe passaria a ser templo da gastronomia ribeirinha. O amigo pescador, sim, seria o ator cortejado. A vedete que nos faz favor de abastecer os finos e os populares restaurantes, ele ficaria famoso e satisfeiro. Melhor remunerado em seu trabalho.

Na comuidade, a família do pescador não ficaria isolada de educação à distância e as crianças não seriam contenadas a seguir o destino dos pais. Pois, aprendedno tudo sobre o peixe de A a Z, cedo ou tarde, acabariam sendo mestres e doutrores da Ciência do mar e rio, que se chama ictiologio e ocenografia. Tudo isto, a partir de uma singela Academia do Peixe Frito fórum e promotora do grande aquário amazônico sustentado por um centro de pesquisa e rede de estações coletoras ao longo da costa e rios da Amazônia.

Mas, a virada da Cidade que cresceu de costas para o rio; termianria por descobrir que o Ver-o-Peso também é mercado de Carne. Aí, já não haveria açougues à moda antiga. Mas, quiosques variados com churrasco de baby-búfalo a preços populares de acordo com um turismo responsável em comércio solidário e agricultura familiar. Por que não? Quem não confessa é porque não ousa deixar cair a máscara. Pois, a cultura popular carece de proteção e amparo, mas o povo merece aparecer melhor na foto de que simples e anônimo figurante de artistas bacanas.

Como dar sustentabilidade econômica ao centro histórico de Belém?

Oportuna reportagem de Aline Monteiro, jornal O Liberal 30/03/2008, indaga como valorizar o centro histórico de Belém. Desafio ao qual 50 estudantes de arquitetura da UNAMA sairam em campo em busca de resposta, sob supervisão de seus mestres na elaboração de diagnóstico dos bairros da Campina e da Cidade Velha.

A principal preocupação é com intervenções em espaços tais como Feliz Lusitânia, Ver-o-Peso e João Alfredo, depois de breve euforia, voltar a apresentar os problemas de sempre a curto prazo. Acham os orientadores, que “está faltando ver esses espaços dentro do contexto da cidade para saber que tipo de função devem ter”.

Diz a reportagem: “Paulo Ribeiro faz esse questionamento fundamental a respeito do centro histórico: 'Será que todas as funções que hoje se desenvolvem lá deveriam estar no centro? Por exemplo, o Ver-o-Peso é um entreposto de comercialização de pescado de dimensões nacionais. Há gente que vai ali para buscar peixe que será vendido em São Paulo, mas existe por isso uma circulação muito pesada de caminhões fazendo esse transporte, e sem um entreposto com condições sanitárias, com controle fiscal. Será que esse hoje ainda é o lugar mais adequado a esse comércio?“.

Qual o melhor presente de aniversário de Belém 400 anos?

O estudo dos 50 estudantes de arquitetura é digno de nota 10, no quesito político (não partidário, diga-se de passagem). Porque temos nós uma cultura fulanizante e patrimonial terrível. Explico, tudo gira em torno de fulano e beltrano se digladiando a saber quem é o bambambã do pedaço... O patrimonialismo nada tem a ver com patrimônio histórico e a coisa pública. Mas sim com o “meu pirão primeiro” imposto em priscas eras através do ultramar.
Trabalhos estudantis em equipe voltados às reais necessidades da cidade e da região, são novidade. Esses vão estimular vocações profissionais que serão um dia autoridades competentes. Longe de estrelismo e soluções miraculosas. De fato, nos faz falta ums cultura pública e profissionalismo de equipe com a cara paraense. Que universidade privada tenha destaque em gestão pública é sinal de que universidades públicas não dão conta do recado. Ou, talvez, os papíes estejam trocados.

No entanto, as costas largas do Governo (este que está aí, aquele que passou e o próximo saco de pancada que virá) – “entidade” paramitológica aparentada de curupira e matinta perera – faz cortina a uma elite complicada por complexo que o dr. Alfred Adler explicaria mais depressa do que Freud. O Pará é rico, o povo é pobre. Quem é o culpado? Sempre o governo, do tempo do Marquês de Pombal aos futuros Prefeito, Governadores e Presidentes da República... Sim, mas – que mal pergunte – quem faz o governo? O povo! Homem, essa! E quem faz o povo obrar dessa maneira? Será a culpa, afinal de contas, de Deus Nosso Senhor no céu, pois os senhores da terra não estão nem aí...

A história do Ver-o-Peso remonta à segunda metade do século XVII. Quando, em 21 de março de 1688, o governo colonial com capital em São Luís do Maranhão, decidiu apertar o controle alfandegário no Grão-Pará. Assim, foi criado posto fiscal para cobrar imposto – a casa do Haver-o-Peso. Isto é, da renda do posto. Simples estrutura, uma balança e um funcionário a zelar pelos pesos e medidas nas transações comerciais da época.

Decorridos 381 anos, o Ver-o-Peso se tornou mais importante na economia da região. Diariamente, nele giram recursos da ordem de de R$ 1,3 milhão; através de compra e venda de diversos produtos. Estima-se algo em torno de um milhão e meio de pessoas, entre consumidores e trabalhadores, circulando todo mês no Ver-o-Peso. Em média, 50 mil usuários por dia, segundo a Secretaria Municipal de Economia (Secon).

Centro histórico de Belém reconhecido, finalmente, pela Unesco com seu entorno natural nas ilhas como paisagem cultural da humanidade. Corredor ecolôgico costeiro do Pará e Marajó sendo reserva da biosfera: neste contexto, entreposto pesqueiro de primeiro mundo não longe da Vila da Barca... E o grande aquário amazônico integrado à Estação das Docas (necessariamente, todo movimento de carga do porto de Belém deveria passar para Vila do Conde). Assim, o Ver-o-Peso sem perder a tradição de nada, exceto pixé de peixe in natura e os urubus a fazer cocô sobre a cabeça de turistas distraídos na Praça Dom Pedro II; daria um salto de qualidade em geração de emprego e renda. Capaz de tirar camelô das ruas, apostar em treinamento profissional com a recosntrução e restauro de velhos prédios em ruída. Prédios que, a bem da verdade, hoje não servem como pardieiro nem à especulação imobiliaria. E, de repente, passariam a ser área nobre para agências de viagem, hotéis de charme, albergues, bancos, escritórios.

Então, senhores candidatos de 2008 com vistas a 2010 e eleições seguintes, habilitem-se!

quinta-feira, 27 de março de 2008

Conversa de compadre






Conversa de compadre é que vale quando a gente tem coisa séria a dizer. Chegando à casa do compadre, o visitante não carece ter pressa, há que se anunciar e tirar o chapéu da cabeça.Pois, é grande descortesia pegar gente de casa desprevenida: Ô de casa! O compadre ou a comadre devem dar licença, ralhar o cachorro que saiu a latir pelo terreiro empatando a passagem da visita: Pode vir! – mudando a voz, fala com o tinhoso – Passa já p`ra dentro, cachorro...
Conversa de compadre, pra ser direita; tem que ter pé e cabeça... Começa ao pé da orelha; termina, paresque, numa sentença e acordo. Todo mundo abancado a escutar, abana cabeça que sim. Ou sacode a dizer que não... Nunca se deve entrar na varanda e ir direto ao assunto. Mas, quanto! Ara, veja... Tem, primeiramente. que esperar o café quente e cheiroso que a comadre foi fazer na hora. Na ante-sala rola conversa fiada sobre as águas, a caristia, a última parada do comerciante da beira, famoso unha de fome.


Mas porém, Deus é grande. Ele tá vendo a traficância do branco pra enrolar o caboco! Lá no céu quando chegar o dia do danado, vai prestar conta com o Chaveiro de Nosso Senhor, carinhosamente chamado, aqui na terra, São Pedro Safadinho: Me diga, sô Fulano – o santo falando – quanta vez o senhor "errou" a matemática a favor da casa e deixou ribeirinho no ara veja? Vuncê sabia o que é, a tal "acumulação primitiva" da estória-geral, vulgo lucro do mais esperto?

O cara metido a besta, já meio enrascado co'a tabuada celestial... Ara, meo Senhor São Pedro! Me dê um desconto pelo amor de Deus e da Virgem de Nazaré padroeira do Grão-Pará... São Pedro coça a barba, franze a testa. O Diabo em riba ribanceira com binóculo e espingarda de atirar em ladrão de gado da Jebre, pai e mãe da febre; se ri a beça que nem jacaré amolando dente quando vê embiara na beira... Antão, um descontozinho, hen? – diz São Pedro – Tá vendo ali, aqueka Ilha do outro mundo? Lá está a fila do Desconto e do crédito em prestação. Vá depressa... Pois a cobra tá aumentando e a distância fica meia légua do Céu e meia légua do Inferno. Desconto no Céu não se pode dar, e tudo trans zan!... Em compensação, na taberna do Diabo o crédito está aberto, mas porém não tem hora certa pra terminar de pagar a prestação.
A risada sacode a sala justo na hora que a comadre vem com o charão de café. A saracura canta: aviso de que a maré quebrou e é tempo de ir aos finalmente. Coisa sobre a encomenda de açaí com preço combianado conforme o apurado. Isto é, conforme o resultado do preço dado na feira. Como é, compadre, pode ser ou está difícil? A comadre, dá um suspiro e se mete na conversa: É, Manel, que jeito?. Negócio fechado, depois da manhã na hora da maré.

quarta-feira, 26 de março de 2008

caboco ou caboclo?

Não há niguém tão estúpido que não consiga aprender alguma coisa, nem tão esclarecido que nada mais tenha a aprender. Somos mestres e aprendizes, continuamente, na escola da vida. Até pouco tempo eu dizia "caboclo" e por caboclo eu me tinha em alta conta. Foi quanto prestei atenção ao modo de escrever de certa pesquisadora de literatura brasileira, que, certamente, não estava a falar "errado" a palavra caboco...

Caiu-me a ficha! Antes, quando eu ouvia alguém dizer caboco, podia saber que era o dito cujo. Pois "caboclo" é o modo "certo", civilizado; de se referir a essa etnia ainda no limbo da antropologia cultural. Há uma pletora de estudos indígenas e não menos sobre negros, quilombolas, afro-descendentes. O pobre caboco tudo que arranjou até agora foi um "l" injustificável e metido a besta...

Outrora, cronistas e viajantes observaram que nas diversas línguas nativas não apareciam as letra, F, L e R... E explicavam, os índios não conhece, Fé, Lei e Rei (falso, evidentemente). Mesmo assim, sendo caboco descendente de índio, talvez lhe metessem alé, da Fé obrigatória e do Rei a qualqur custo, também a Lei por força de gramática e a santa Férula (pamatória) durante a aula.

Mas, o diabo dos gramáticos debaixo do equador é que o étimo caboco vem do tupi-guarani, através Nheengatu (língua geral amazônica, como ensina o prof. José Ribamar Bessa Freire, Rio Babel - a história das línguas na Amazõnia), de caá (mato, vegetal) e boc (saído, tirado de). Logo, é intromissão forçada o tal "l" de caboclo.. E se o dito cujo diz, perfeitamente, caboco. Então, por que cargas d'água, o branco entortou a língua do índio? Só pra chatear, mea senhora!

Sou eu de uma geração em que os cabocos aprendíamos em cartilha com esta primeira lição de língua portuguesa: Ivo viu a uva... Eu jamais me esqueci de que na escola pública da vila Itaguari tinha um colega chamdo Ivo e que só fui ver uva muitos anos depois, em Belém. Ali a gente via todo dia mangas, goiabas, pupunha, açaí, bacuri... Mas, uva não havia ali nem pra remédio.

Aprendi que os cabocos falam errado a palavra canoa, trocando-a por canua, como pupa (popa) e prua (proa). Porém - Deus é bom! - , certo dia me caiu às mãos o livro Toponímia Brasílica, de autoria do geógrafo e demarcador de fronteiras Armando Levy Cardoso; no qual fiquei sabendo que canoa vem do aruaque canuá, através do espanhol. Outra contribuição arauque é 'tubarão", de tiburón, pela mesma via hispànica. Outros casos, "anaconda' (sucuriju, em tupi); "arapaima" (pirarucu)...

Ora, ora; seu Manuel; deixemos o caboco falar a palavra certa! É canua, e pronto. Outra coisa interessante que aprendi no livro foi a desconfiar da tupimania. Isto é, o vicio brasileiríssimo de achar que toda palavra indígena se pode traduzir pela língua tupi. Sobretudo, na área cultural guianense. Que vai das ilhas do Marajó pela margem esquerda do Baixo-Amazonas, passando ao Rio Negro até o delta do Orenoco e ilha de Trinidad pela costa marítima. Aí nas Guianas predomima a babel de línguas de tronco Aruak e Carib, Guiana brasileira (Calha Norte) inclusive.

Não entra na minha cabeça que a melhor tradução para o topônimo "Marajó" (Mbarayo) seja o propalado "barreira do mar"... Prefiro a dedução, pelo velho tupi-guarani, de Marãyu (marã; o mal; malvado; e yu; gente; povo), "gente malvada". A tradução não é elegante, mas justificável pela história de ódio hereditário entre Tupinambás e Nheengaíbas (ambos nomesm tupis), os dois povos que habitaram as margens opostas do Rio Pará, à época da conquista do rio das amazonas. Que a crônica luso-brasileira esteja baseada na Língua-Geral é resiltado do fato de terem sido o arco, o remo e o idioma tupinambá instrumentos indispensáveis de conquista e colonização da Amazônia brasileira, predominando sobre as milhares de línguas tapuias (inimigas).

A cidade de Belém é banhada pela baía do Guajará, aonde vem desaguar o rio Guamá. Levy Cardoso ensina, que se deve o topônimo do rio ao nome a Guaiamã, cacique dos Aruã e Mexiana, no arquipélago do Marajó. Devia dizer-se, então, rio de Guaiamã. O motivo disso é que vinha ele de tempos em tempo fazer a guerra aos antigos inimigos de seu povo, assaltava aldeias de índios "mansos" (escravos) para os trocar por armas e munições com traficantes franceses de Caiena.

Foi esta a causa do furto do café de Caiena, pelo sargento-mor Francisco de Mello Palheta, que deu roças no Pará, e foi fazer fazendas no Rio de Janeiro e São Paulo. Depois eu conto. Agora basta saber, que velhos cabocos ao se referir ao rio e ao bairro por extensão, pronunciavam inconfundivelmente Guamã... Reminiscência da memória do cacique bandoleiro da ilha do Marajó. Que passou a Guamá na língua do colonizador.

O vento que sopra lá, também sopra aqui...

Uma amiga minha ao ler comentário sobre a emigração de brasileiros e brasileiras em busca de um 'dólar furado', mandou-me este alerta a muitas meninas que acreditam em Papai Noel e príncipe encantado estrangeiro. Vejam e comentem, passem para seus amigos e amigas:

"Diásporas pelo mundo - Uns 10 anos atrás, ainda morando na Itália, decidi escrever um artigo sobre o êxodo dos brasileiros. Tinha notado que, em poucos anos, das cinco brasileiras que moravam em Bolonha há anos com suas famílias ítalo-brasileiras, tínhamos virado dezenas. A quantidade de brasileiras tinha aumentado muito em pouco tempo. Eram principalmente mulheres que chegavam a tiracolo de italianos que voltavam das férias no nordeste do Brasil.
Quando iniciei a pesquisa descobri que esse êxodo tinha precedentes antigos e maiores. Descobri assim a existência dos "brasiguaios" e os problemas com aqueles que se encontravam no Japão. Fiquei admirada pois estamos acostumados a pensar somente naqueles destinos que a TV fala.
Chamei o artigo de "Diaspora brasileira" e o discuti com alguns dos poucos intelectuais brasileiros que estudavam na Itália. Não estavam de acordo; acharam exagerados os dados mesmo se citavo a proveniência deles. Resultado, acabei não mandando o artigo para nenhum canto. Vivendo longe, as vezes a gente vê os problemas com outros olhos. Mesmo se os dados eram incriveis, acabei me convencendo que era melhor deixar para lá.

"Desse momento até eu voltar para Belém, o negocio piorou. Entravam como turistas e desapareciam depois de vinte dias. Vi e acompanhei o nascimento de uma “cadeia de solidariedade” entre as que tinham chegado antes e as novatas. Ensinavam a “estrada melhor” para evitar os controles. E não chegavam somente do Brasil, mas de outros países também. O pai´s que recebe o que deve fazer?

"Estes dias, vendo o caso dos brasileiros mandados de volta da Espanha, me lembrei desse artigo. Não adianta a TV ficar entrevistando as "coitadinhas" que iam de "férias" ou encontrar o "noivo". Com a minha experiência posso dizer que 90% vai mesmo para a Europa, para tentar a vida: seja, como doméstica que dançando em bares ou fazendo o que aparecer... de forma ilegal.
Quando comecei a notar esse tipo de “imigração” brasileira me perguntei por que? Sabia que saiam daqui por necessidade, pensando de melhorar, mas por que a Itália? Conversando com os italianos cheguei a algumas conclusões, que eles mesmos confirmavam: a mulher italiana chegou a um ponto de liberdade sexual que as nossas nem sonham. Uma liberdade diferente daquela daqui, porque elas são economicamente independentes. Lá, já chegaram ao ponto de serem elas, as mulheres, a escolher o homem. Elas já não precisam que alguém pague o seu jantar ou que comprem um vestidinho para poder entrar em algum local (como fazem as nossas com os turistas).

"Esse grau de "liberdade" fez nascer um enorme problema para os homens. De fato, mês sim, mês não, a TV falava da quantidade de homens "impotentes" e a juventude nisso, tinha e tem uma enorme presença. No plano concreto, a conquista de uma maior liberdade pelas mulheres, encontrou os homens pouco preparados. Creio que as "feministas" do meu tempo, continuaram a educar os filhos para serem machões. Acontece que quando chegou a hora de bancar o macho, as meninas, já livres de tabus, é que decidiam e eles acabavam brochando. Essa liberdade nova foi vivida com imaturidade e provocou várias distorsões na identidade do “galetto” italiano.
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"O que quero dizer com isso? Que o italiano, defronte da disponibilidade das brasileiras - diferentemente das italianas - se sente o tal e isso favorece esse exodo de mulheres em direção da Italia.

"Qual problema deriva dessa “imigração” irregular? A quantidade de mulheres, mas não só, que fica ilegalmente é impossível de calcular. Os controles feitos nas ruas, enchia as prisões, mesmo se a prostituição de rua, era para russas, austriacas, yugoslavas, homossexuais brasileiros, etc. Caso raro ver uma prostituta brasileira na rua: elas estavam dançando em algum local ou recebendo em casa, muitas vezes com a conivência da policia. De vez em quando, com prisões cheias, ou vendo o enorme aumento de casos de expulsão, tinham que “abrir as portas” para os irregulares e fazer sanatórias, que resolviam o problema de cerca 25%, em média, de quem queria se regularizar: o restante voltava para a clandestinidade.

"Francamente, sobre esse argumento, tem muita coisa a pesquisar e a dizer. O desemprego na Europa, não somente na Espanha, está aumentando cada dia mais. A concorrência entre "pobres" vindos dos ex paises socialistas, dos paises arabes e da Africa, vocês não podem imaginar. Todo ano, no verão, barcas-carcaças afundam nos vários golfos do sul da Italia, com milhares de estrangeiros (não somente árabes e africanos) que pensam conseguir ter melhor vida. Tentam entrar na Europa através da Itália e muitos nem chegam a desembarcar.
Sobre uma dessas desgraças que o mundo nunca soube, minha filha fez um documentário. O povo que morreu afogado vinha até do Afganistão... Somente 10 anos depois, quando um pescador encontrou nas redes de pesca uma carteira de identidade de um rapaz da mesma idade de seu filho, a coisa veio a tona. (http://www.teatro.org/rubriche/teatro_civile/dettaglio.asp?id_news=7314)

"Quem procura a Europa, deve estar disposto a tudo. Na Itália, a coleta de frutas no verão é muito rentável, para qualquer um, pois a paga é alta. Pois bem, essa gente chega e trabalha por 10% da tarifa estabelecida; muitos dormem em lóculos dos cemitérios. Os italianos que perdem o trabalho quando chegam os estrangeiros, logicamente, denunciam e criam caso. Na Espanha, com certeza acontece o mesmo. Eles já estão lotados de peruanos, argentinos, costaricanos, etc. As ex-colonias tem precedência, inclusive porque falam a língua.

"Portanto, acho realmente que precisa estudar esse assunto, e muito, antes de achar que é algo contra o Brasil. É até ridículo pensar assim."