segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

RESERVA DA BIOSFERA DO ARQUIPÉLAGO DO MARAJÓ

Amazônia Marajoara urgente:
Ócio como negócio sim, Agronegócio não!


A gente marajoara não vai ensinar padre nosso a vigário: mas se Suas Excelências municipais, estaduais e federais dispusessem de um minuto para prosa de pé no chão acerca da controvertida “ilha” do Marajó diríamos para não se perder mais tempo e ir diretamente ao ponto certo: a candidatura da Reserva da Biosfera do Marajó ao COBRAMAB (Brasília) e, enfim, ao MaB/UNESCO (Paris).

O problema é a mentalidade (neocolonial, subcolonial, provinciana, etc.) de nossas respectivas autoridades, salvo honrosas exceções. Sabemos que o ambicioso programa multilateral “O Homem e a Biosfera” (MaB) como todo mais sistema da ONU tem sofrido maus pedaços. Também que a promessa do Brasil em proteger todos seus grandes biomas está em falta, bem como os Pampas gaúchos tem mais munição política do que o pobre arquipélago do Marajó para chegar lá no Planalto e às margens iluminadas do Sena.

Todavia, não faltam razões de Estado para priorizar a demanda marajoara que já dura sete anos, conforme publicação da Cátedra da Unesco em Belém do Pará poderia provar facilmente. Mas, enquanto os bons gaúchos se unem a favor do bioma dos Pampas os paraenses que não são, claramente, contra fazem corpo mole...

Além do mais reina confusão nos arraiais menos alfabetizados, parecendo que ONU seja algum tipo de ONG imperialista. Na verdade, ainda que faltando implantar, o Brasil tem mais da metade do total de territórios do planeta reconhecidos pela UNESCO como reservas da biosfera, a começar pela vasta Mata Atlântica com vários estados.

O fato do bioma marajoara ser bem definido pelo arquipélago poderia inverter a pauta do MaB internacional para privilegiar a região amazônica, certamente, a mais significativa à inovação em integração e sinergia da Educação, da Ciência e da Cultura: eis que estamos nos referindo à primeira cultura complexa da Amazônia em um singular bioma marítimo e fluvial do Trópico Úmido notável pela ocorrência de manguezais e populações tradicionais que vivem, há milhares de anos, dos recursos naturais locais.

Que melhor lugar da Amazônia brasileira para a Presidenta Dilma Rousseff estabelecer parceria estratégica com a diplomata búlgara Irena Bukova, na direção geral da UNESCO?

Não acredito que o Chanceler Antônio Patriota e os Ministros Fernando Hadad, Aloíso Mercadante, Ana de Holanda e Izabella Teixeira fiquem insensíveis à idéia de trabalhar juntos com a UNESCO na foz do maior rio do mundo e transformar o atual e incipiente PLANO MARAJÓ, que se acha em curso limitadamente; num instrumento inovador de referência para o MaB mundial com destaque especial para a política socioambiental do Brasil em cooperação internacional.

O que sei, por certo, é que os estados mais poderosos tem as mais organizadas entidades da sociedade civil com poder de barganha maior do que outros menos articulados como é o caso do Pará e seu vizinho mais próximo, o Estado do Amapá. Portanto, quem não é o maior tem que ser o melhor. Se o Pará possui um trunfo como este por que perde tempo em risco de trocar o direito de primogenitude da Cultura Marajoara por um prato de lentilhas das compensações tipo a Lei Kandir, por exemplo?

Começamos 2011 com estranho sentimento de contradição. A sofrida ilha da “Criatura grande de Dalcídio”, cantada em prosa e verso, todavia entregue a destino perverso como atestam o baixo IDH, a alta taxa de analfabetismo e o retardo do desenvolvimento local às calendas gregas, vive agora um paradoxo a mais.

De uma parte, o antigo matriarcado se congratula com a posse de Dilma Roussef, a primeira Presidenta do Brasil. E escolha de Tereza Cativo (SEMA), Adenauer Góes (PARATUR), Alex Fiúza de Mello (SEDECT), Nilson Pinto (SEDUC), Hildegardo Nunes (SAGRI) dentre outros amigos do Marajó pelo Governador Simão Jatene em seu retorno ao governo estadual. Com isto, a decisão soberana do povo paraense abre nova porta à esperança de que o PLANO MARAJÓ (2007-2010) – demandando, inicialmente, pela sociedade civil com apoio dos bispos de Ponta de Pedras e Marajó (Soure) – vá em frente e mais depressa no período 2011-2014.

Por outra parte, o povo além de se preocupar com descompasso de sempre entre solução e agravamento de velhos problemas, deparou com a notícia de que Cachoeira do Arari, célebre pelo romance “Chove nos campos de Cachoeira” do premiado Dalcídio Jurandir e pelo Museu do Marajó; estaria agora em vias de ser invadida por arrozeiros recentemente defenestrados de Roraima como inimigos declarados de índios de Raposa / Serra do Sol.

Obviamente, o novo problema da gente marajoara não é o velho plantio de arroz em roças de “sequeiro”, como em Ponta de Pedras ou na várzea como já houve no município de Breves em pequena escala. Arranjo produtivo em economia solidária entre comunidades tradicionais e rede de supermercados com responsabilidade socioambiental poderia gerar empregos e renda local e colocar na mesa das cidades arroz integral e outroa produtos da agricultura orgânica.

Nós não queremos Marajó como santuário ecológico, tampouco queremos vê-lo como feudo do agronegócio predador! Sequer experimento técnico relativo à compatibilidade e fertilidade do solo em Marajó para cultivo de arroz é novidade para a EMATER e a EMBRAPA: o problema é a esquizofrenia do “modelo” de desenvolvimento imposto contra os verdadeiros interesses locais da população.

O mais grave problema do Marajó e mais regiões amazônicas é a síndrome de iluminismo tecnoburocrático. O mal do pensamento anti-econômico que teima em opor meio ambiente ao desenvolvimento sócio-econômico, matando assim a galinha dos ovos de ouro em nome de um triste imediatismo que deixa rastros na violência do latifúndio e na injustiça social do êxodo rural nas cidades a fomentar insaciavelmente novos presídios, gastos em segurança pública e postos médicos de urgência e emergência para conter a explosiva falta de convívio humano que resulta da falta de empregos e investimentos sociais urbanos.

Marajó é exemplo histórico de desperdício econômico motivado por miopia política. E se existe um país no qual o Pará deveria se espelhar para planejar o desenvolvimento das suas regiões de potencial turístico esse país seria, provavelmente, a Costa Rica, na América Central.


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