terça-feira, 7 de setembro de 2010

A Cultura Marajoara: símbolo maior do Estado do Pará na República Federativa do Brasil

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hoje, 7 de setembro de 2010; completa 7 anos da CARTA S.O.S LAGO ARARI endereçada com abaixo-assinado ao Presidente Lula no dia 7 de setembro de 2003, durante a Exposição Itinerante do MUSEU DO MARAJÓ em Santa Cruz do Arari. Pediu-se em nome de todos marajoaras que a ancestral CULTURA MARAJOARA de 1500 anos de idade seja levada na devida consideração em seu contexto socioambiental contemporâneo, pelo qual o lago berço da civilização amazônida deve ser declarado patrimônio natural da humanidade e a APA-MARAJÓ reconhecida pela UNESCO como reserva da biosfera.

a história do MUSEU DO MARAJÓ é referência da luta e resistência do povo marajoara para fazer parte da nação brasileira. Muitos brasileiros distraídos acreditam que o Marajó é "uma" ilha do Amazonas... E, se não bastasse, há paraenses que acham que o símbolo do Marajó é o búfalo. Animal útil, porém rústico e ignorante dos sítios arqueológicos, os tesos; onde homens pobres e analfabetos vagam carregando a pecha de "ladrões de gado" e o dito animal pisoteia "cacos de índio" deixados ao chão depois do arrombamento e do saque dos tesos de cerâmia pré-colombiana.

A primeira resposta do Presidente àquela improvisada carta veio por intermédio do IPHAN com o "Inventário Nacional de Referências Culturais - MARAJÓ" (levantamento preliminar, Ilha do Marajó, Pará - 2007). Pouco depois, em atendimento à demanda da sociedade civil encaminhada pelos dois bispos da igreja católica do Marajó (2006), a Casa Civil da Presidência da República organizou e coordenou o Grupo Executivo Interministerial de Acompanhamento das Ações de Desenvolvimento do Arquipélago do Marajó (GEI MARAJÓ)destinado a atender ações de emergência e a elaborar o PLANO MARAJÓ, lançado em 2007 e complementado em 2008 pelo programa Territórios da Cidadania - Marajó.



das ações emergênciais destacou-se o Projeto Nossa Várzea de regularização fundiária, coordenado pela Secretaria do Patrrmônio da União (SPU), que já atendeu a mais de 30 mil famílias ribeirinhas, antes deixadas em situação de servos da gleba por supostos "patrões" que decidiam sobre quem podia ou não morar em terras da União e extorquiam a produção extrativista de pobres cabocos sob vistas grossas do poder oligárquico local.

quer dizer, embora todo este longo processo de resistência e luta da gente marajoara que vem de muito longe e ainda está no "meio do caminho", tem nos governos Lula e Ana Júlia uma mudança histórica fundamental sem precedentes. Carece, pois, conscientizar o povo para não deixar perder o terreno duramente conquistado.

É HORA DE RECLAMAR O TOMBAMENTO DA CULTURA MARAJOARA COMO PATRIMÔNIO NACIONAL IMATERIAL E SÍMBOLO OFICIAL DO ESTADO DO PARÁ.

. Com esta providência, a identidade e empoderamento democrático do território estará assinalado e o motivo para tanto está na arqueologia amazônica que, com respaldo científico, garante ser a arte marajoara a primeira cultura complexa da Amazônia. Com que também o Caboco do Marajó reitera aos candidados de 2010 sua Petição número 4, a seguir:

Petição 2010 [4]
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4 - Casa de Dalcídio & museu do Gallo: mãe de todas pelejas

Comparável a uma tragédia grega, a incrível história do Museu do Marajó e casa de Dalcídio Jurandir, em Cachoeira do Arari, enaltece a luta da brava gente marajoara. Mas, ao contrário, desde décadas mancha crescentemente a figura de autoridades por falta de atenção e informação competente. Ao mesmo tempo que não cessam de falar sobre certa Amazônia que se reduz unicamente à floresta amazônica com bichos e árvores de madeira de lei em extinção, num “paraíso”, onde o homem seria apenas intruso.

Por fim, surgiu na mídia a novidade da Amazônia “azul”, mas como dizem parecem ignorar a enormíssima faixa barrenta costeira dos manguezais. O rio Amazonas correndo dentro do mar, amarelando as águas, cobrindo de tijucos e arvoredos tantas praias das Guianas, rica biodiversidade com o milagres dos cardumes. Desta Amazônia atlântica não se fala da área cultural guianense (que vai do arquipélago do Marajó na foz do Amazonas até o delta do Orenoco (Venezuela) fronteiro às ilhas de Trinidad e Tobago, no Caribe.

Por que medalhões da república dariam alguma importância a uma velha casa em ruínas do tempo e espaço onde personagens de romances sumidos do mercado de livros moram debaixo de chuvas e esquecimento? Qual o interesse em salvar um museu do fim do mundo (onde a vingança dos cupins consiste em comer tamanduá empalhado), depois que seu criador implodiu numa quixotada sem par? Se até mesmo o extremo norte tupuia não interessa a formadores de opinião, nem tem sentido a expressão etnológica e ecológico-econômica nas grandes corporações a Corrente das Guianas formada pela fusão do barrento Amazonas à Corrente Equatorial Marítima em direção ao Golfo do México e o mar do Caribe.

Pobres cabocos analfabetos de pais e mães mariscadores de mangue da Contracosta, apanhadores de açaí da varja (sic), pescadores do Cabo do Norte e do lago Arari. Quem era por vós, outro dia, se não aquele estúrdio escritor da “criaturada grande” ou o padre Gallo nas palafitas da vila do Jenipapo? Arvorado a defender “ladrões de gado” inexistentes para registro civil, de quando em quando achados só para meter na cadeia ou dar fim entregues aos urubus na “jebre” (matagal) donde nunca deveriam ter saído. Mas Dalcídio Jurandir e Giovanni Gallo já morreram... Como também é finado o camarada da regularização fundiária da nossa várzea, Neuton Miranda; aquele um que nem El Cid caído em combate, lá pelas barrancas do Tapajós. Aonde ele se acabou a serviço do País, cenário de biopiratas e exploradores de trabalho escravo, mina da sorte onde foras da lei costumam fazer fortunas. E agora, José? E agora esta gente, quem será por nós?

Aqui está o problema maior: manter a gente em “santa” ignorância em meio a um universo sensível e complexo, que só poucos especialistas conhecem de fato além da imprudência impatriótica que poderia ser equiparada a crime de lesa humanidade. Há milhares de anos, o homem amazônida ocupa as regiões do trópico úmido da América do Sol: continuum histórico do paleoíndio ao caboco na passagem da Natureza à Cultura. Cerca do ano 400 da era cristã, na ilha do Marajó, criou-se a civilização neotropical marajoara (cf. Ann Roosevelt, Denise Schaan e outros).

O Brasil democrático do século XXI ainda não se deu conta deste fato incomparável para exercício de uma política descolonizadora para valer. Nós não encaramos a sério o passado colonial e sua brutal redução de línguas e culturas dos “índios”. Os “índios”, “quilombolas” e congêneres ainda são os Outros do “nosso” Brasil varonil e neoeuropeu... A cultura tradicional da “Criaturada grande de Dalcídio” (cf. Eneida de Moraes) (cabocos descendentes daqueles indígenas exilados dentro da própria terra natal), continua sendo estranha ao “paraíso ecológico”; marginalizada tal qual os avoengos “nheengaíbas” outrora sem ter quem a defenda de verdade.

As metrópoles subiram em direção ao reino das nuvens: ignoram o solo que as sustenta. O resultado é que a elite urbana não sabe, além da teoria, fazer as devidas conexões da geografia com a história, não vê o “universal” através do “regional”, fala em transversalidade sem compreender que “global” é abstração e só o “local” é real.

O Marajó, com seu desamparado polígono de sítios arqueológicos onde búfalos e crianças povoam a paisagem cultural na microrregião Arari, é patrimônio natural e cultural com a dimensão de um museu aberto diante da indiferença da elite e imensa ignorância nacional. Assim, a dramaturgia brasileira com louvável exceção de teimosos militantes paraenses do cinema pobre e do cineteatro da Resistência Marajoara, perde chance de explorar filão incrível cujo ícone é o “índio sutil” homenageado por Jorge Amado.

A tragédia marajoara resulta de grave e secular equívoco político – denunciado já em fins do século XIX, pelo Barão de Marajó, sem encontrar o remédio necessário – que, todavia, deverá ser remediado agora com a união democrática de todos municípios, do Estado e governo federal no sentido de criar a fundação que era sonho de Giovanni Gallo, conforme ele deixou escrito na sua obra dedicada aos artesãos e artistas continuadores da arte marajoara tradicional (“Motivos Ornamentais da Cerâmica Marajoara”).

O sonho do padre insubmisso poderia ser uma “Fundação Marajoara Giovanni Gallo”, com a missão de dar amparo público especializado em parceria com a comunidade marajoara de municípios e o trade de turismo e cultura visando a fortalecer e sustentar o museu em conjunto com a casa de Dalcídio Jurandir, em Cachoeira do Arari, com extensão a todos municípios do Território da Cidadania. Deste modo, será o Homem marajoara que estará amparado pelo Estado brasileiro, com os cuidados revelados por Dalcídio Jurandir, o qual considerava as populações tradicionais sua “Criaturada grande”. Populações estas vistas como remanescentes de antigos criadores da civilização neotropical marajoara, cujos vestígios se acham nos tesos (sítios arqueológicos).

Bom há de ser se futuros eleitos de 2010 tomarem nota desta petição marajoara sabendo, enquanto candidatos, que o velho Marajó deve ser especialmente contemplado quando Brasil e Unesco acabam de formalizar a criação do Centro Regional de Formação para Gestão do Patrimônio, no Rio de Janeiro. Cidade mundial onde o Museu Nacional guarda cerâmica marajoara arrancada do arrasado teso do Pacoval (não longe da modesta vila do Jenipapo, que em 1972 viu nascer o Museu do Marajó a partir de “cacos de índio” deixados por terra durante os repetidos saques que o teso do Pacoval sofreu desde a segunda metade do século XVIII).

Tal qual o Museu Nacional, outras instituições brasileiras e estrangeiras teriam posse de coleções tiradas do Marajó. Já se fala em repatriamento de peças levadas ao exterior: mas o Marajó não se acha preparado nem para tomar conta do que restou até agora da antiga Cultura Marajoara. O ministro brasileiro da Cultura, Juca Ferreira; é presidente do Comitê do Patrimônio Mundial da Unesco, e se reuniu com a diretora-geral da Unesco, Irina Bokova, para assinar o acordo de criação do referido Centro como resultado de esforço brasileiro para a cooperação técnica internacional, aprovado na 35ª Conferência Geral da Unesco, realizada ano passado na França.

Carece superar nosso velho complexo de inferioridade! Pode-se considerar, de fato, Marajó um universo ecocultural dotado de singular patrimônio imaterial a partir de sua mitologia, folclore, danças, rezas, ladainhas, festividades, culinária típica, saberes e fazeres que estão ameaçados de perder e que poderiam gerar emprego e renda com potencial de ecoturismo de ponta como jamais foi tentado nesta região amazônica.

A criaturada grande que povoa o romance dalcidiano se acha imortalizada também no Museu e pode ser vista, com engenho e arte, “com as pontas dos dedos”. O abandono público de tais riquezas é continuação da “Tragédia e Comédia de um Escritor Novo do Norte”, segundo Dalcídio Jurandir (“E naquela noite da Aldeia, num banco no terreiro, tomamos o tarubá, bebida da terra e do povo. Não me esquecerei nunca da Aldeia.“). Sutil declaração de militância e combate, em Santarém, a serviço do censo demográfico ao comemorar por acaso o primeiro prêmio nacional do autor marajoara, dado ao romance “Chove nos campos de Cachoeira”.

Trata-se aqui de uma concepção de planejamento regional estratégico no qual o desenvolvimento cultural (não mais a simples extração de recursos naturais e exploração da força de trabalho) induz o desenvolvimento sócio-econômico dos 16 municípios marajoaras integrados a um só território geograficamente consolidado a partir da época pré-colonial. Todos estes 16 municípios são ricos em conhecimentos tradicionais integrados à biodiversidade, todavia política e culturalmente diversos.

A arqueologia marajoara reclama proteção como “o mais importante material arqueológico brasileiro” (cf. Heloísa Alberto Torres, ex-diretora do Museu Nacional, revista do IPHAN, 1937), a partir do Marajó poder-se-á implantar programa nacional de proteção a sítios arqueológicos do País, levando a sociedade em geral a compreender melhor a antiguidade pré-colonial como parte integrante e substancial da História do Brasil. Deste modo, deixaríamos de lado o mito do “país jovem” para o Brasil mais antigo e seguro de seus direitos e deveres na Amazônia.

Um comentário:

Unknown disse...

Olá ! A tempos que eu leio as coisas que tu escreves. Gostaria de entrar em contato contigo. Se puderes me adicionar no msn( ednezmorena@hotmail.com) eu agradeço. Gostaria que conversassemos sobre o nosso Marajó. Obrigada.