quarta-feira, 20 de outubro de 2010

20 de Novembro: DIA DA CULTURA MARAJOARA

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todo caboco ou caboca vem ao mundo pra chatear a paciência dos brancos. Comigo não foi diferente. Não é à toa que os donos do Poder falsificam história e sonegam escola que preste para a gente do povo: se mal letrados já são chatos imagine quando um zé mané pega diploma de doutor! Não é meu caso mas assim mesmo dou palpite sem ser chamado.

Desde que a Extensão da UFPA no campus Marajó inventou os Encontros em Defesa do Marajó, entre os anos de 1980 e 1990, a privatização ilegal de sítios arqueológicos e cerâmica marajoara pré-colombiana começou a dar marcha à ré. No dia 20 de dezembro de 1994, militantes de educação ambiental da SOPREN e amigos do Marajó coordenados pelo Pró-Reitor de Extensão Camillo Vianna decidiram, então, criar informalmente o Grupo em Defesa do Marajó (GDM). O GDM organizou e realizou o décimo e último encontro da série, concluido em 30 de abril de 1995, na cidade de Ponta de Pedras-PA, na ilha do Marajó.

A proteção e amparo oficial aos tesos e recuperação de acervo extraído ilegalmente foi então reclamado pelo GDM às autoridades federais e estaduais, que naturalmente não deram bola nem passaram recibo aos quixotes. Mesmo assim, a SECULT não fez ouvido de mercador ao GDM, o MP e PF compareceram à reunião que terminou por dar "cartão amarelo" à notáveis "donos" de sítios arqueológicos existentes dentro de terras de fazenda. Desde então o IPHAN fez das tripas coração para esticar o magro orçamento e mandar a campo o pouco pessoal técnico que dispõe para enfrentar a enormidade do problema. A gente compreende a dificuldade regional, mas não pode concordar com a leniência federal.

Seria prolixo demais relatar ponto por ponto o que tem sido a luta dos marajoaras, para "fazer alguma coisa" em benefício da educação patrimônial da gente marajoara, desde que o padre Giovanni Gallo comprou briga feia para inventar, em 1972, um incrível ecomuseu no fim do mundo com título pomposo de MUSEU DO MARAJÓ, na margem do grande lago Arari onde a Cultura Marajoara nasceu, há mais de mil anos.

Ora, nem mesmo o arguto "payaçu dos índios", o padre Antônio Vieira, que pacificou a ilha dos "ferozes" Nheengaíbas (marajoaras)em 1659; deu sinais de ter visto a original arte primeva encontrada cem anos mais tarde pelo dono da sesmaria Ananatuba e fundador da vila de Cachoeira, Florentino da Silveira Frade. Do estupendo achado do teso Pacoval do lago Arari, margem do igarapé do Severino, informou o naturalista da Universidade de Coimbra e autor da "Viagem Filosófica" (1783-1792), dizendo ele que o fato se deu a 20 de novembro de 1756. Data que um relato anônimo arquivado na Biblioteca Real do Porto (Portugal) confirma, indicando probalidade do mesmo Florentino da Silveira Frade ser autor do dito relato, na verdade primeira notícia biogeográfica da ilha do Marajó.

Nossa proposição para o dia 20 de Novembro ser considerado o DIA DA CULTURA MARAJOARA leva em conta o fato de que esta cultura ancestral com seus mistérios permaneceu oculta e respeitada pelas populações índígenas que ocuparam a ilha desde o fim da denominada "fase" Marajoara, cerca de 1400. A arqueóloga brasileira Denise Schaan deu impulso aos estudos anteriores, notadamente realizados pelas norte-americanas Batty Meggers e Anna Roosevelt; de modo que não há dúvida de que se trata da primeira sociedade complexa da Amazônia e, exatamente, da arte primeva brasileira à toda prova. Por que, então, quem tem obrigação de cuidar desta riqueza não dá prioridade ao assunto? A resposta está talvez nos anos de 1940, na briga entre o Museu Nacional e os fundadores do IPHAN, estes a favor do colonial aquele interessado pelas origens pré-colombianas.

A data marajoara de 20 de Novembro de 1756 deve ser tomado como efetiva "notícia histórica" acerca da primeira cultura complexa da região amazônica. Fato que incorpora à cultura nacional 1500 anos de história pré-colonial. Por feliz coincidência, 20 de Novembro é o dia nacional da Consciência Negra, que assinala a reconstrução da história de luta e resistência do Quilombo dos Palmares. Assim, a mesma data irmanará a resistência indígena e dos negros, dentro do mesmo processo de inclusão dos povos e populações tradicionais à história contemporânea do Povo Brasileiro.

Todavia, não basta um ato administrativo qualquer, uma lei publicada do Diário Oficial do Estado ou da União, para que se recupere o tempo arqueológico perdido. Já a Constituição-Cidadã tinha declarado que pertence à União bens de natureza arqueológica e a legislação mais antiga do IPHAN a este respeito não foi revogada. Quer dizer, um DIA NACIONAL DA CULTURA MARAJOARA carece nascer nos campos do Marajó, no coração e na mente da brava gente lesada da herança deixada por seus antepassados autóctes.

2 comentários:

Unknown disse...

Acredito que a solução mais efetiva seja a educação e conscientização da nossa gente sobre o valor que nossa cultura e nossas heranças arqueológicas que possuimos. O padre Giovanny sempre foi um visionário, viu isto assim que chegou ao Marajó e trabalhou duro.Precisamos de união e de alguém disposto a lutar por isto.De verdade.Eu estou, embora distante.

Franssinete Florenzano disse...

Parabéns pela sua luta. Conte comigo! Vou reproduzir no meu blog e repercutir no twitter essa bela iniciativa. Abraços.