sexta-feira, 8 de outubro de 2010

Viva Marajó! Viva o ecoturismo!

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Reza a Constituição do Estado do Pará, em seu artigo 13, que a vocação econômica do arquipélago do Marajó levará em consideração a qualidade de vida da gente marajoara. Ora, que maior vocação econômica da região do que o turismo? Entretanto, até agora o caminho foi apontado mas falta ainda manifesta vontade política para um turismo pujante na Amazônia paraense. O que poderia ser evidenciado com a criação da Secretaria estadual especializada e a reforma da companhia estadual de turismo.

Nós, os cabocos, não temos papas na língua. Isto é, acanhamento de dizer besteira nem de puxar conversa fiada com doutores da lei super diplomados. Da coisa certa a gente não sabe nada, mas acerca do errado é larga nossa experiência... Há uma categoria de cabocos filosofantes, na qual me acho por acaso, que meu confrade Agostinho Batista chama de “retóricos”. Retórico, na cultura popular, é um pensador autônomo que dá palpite a torto e direito sem ser chamado na conversa, tipo assim: falei e está falado: dane-se o periquito da amassadeira!... (amassadeira era profissão de amassar açaí, antes da mecanização) e o periquito entra na estória como Pilatos no Credo, sem mais nem menos, por simples força de expressão.

Claro, retóricos aborrecem aos doutos e o povão lhes antipatiza por estarem quase sempre a chatear a paciência dos ignorantes. Cheguei à conclusão que ninguém gosta de ser retórico, mas é o azar de morar na fronteira entre o limbo e o inferno verde que faz um sujeito assim. Quem 'havera', então, de dizer onde o sapato aperta na periferia se não este tipo de sofista? Em minha qualidade de retórico, certa vez a um candidato cantando loas à panaceia do turismo lhe disse, francamente, nada saber do assunto; não ter negócio turístico nem mesmo ser um turista na vida. Mas porém, está na cara que se os donos do poder quisessem, de fato, transformar pobreza em riqueza, não vacilariam em dar tratamento Político ao turismo.

Não é a mesma coisa do que acontece. Mas, imagine que o prefeito de uma suposta vila do “Fim do Mundo” viesse ao pé da autoridade estadual ou federal mendigar inclusão do município no plano de fomento turístico. Logo haveria ali um pacto para atrair visitantes às localidades com atrativo de turismo. Regra numero 1: o melhor lugar para o turista é aquele que é bom para o habitante local. Regra número 2: ninguém gosta de ir onde não existe hospitalidade. Daí em diante, o trivial. Então, seguindo a receita, por hipótese, pode suceder que a vila do Fim do Mundo nunca venha a receber um único turista. Mas, só pelo fato de ter se preparado ao 'receptivo”, esse município já ganhou com a perspectiva do Turismo que, inclusive, dispõe de uma filosofia de solidariedade e convivência.

Dada licença ao caboco retórico, digamos que o próximo governo estadual precisa dar uma sacudida ao setor de fomento à economia do turismo. Antes de mais nada, dar status Político ao setor estratégico da atividade turística através de criação da “Secretaria de Estado do Turismo e Desenvolvimento Sustentável”. Não apenas a empresa pública “Companhia Paraense de Turismo – PARATUR” carece de maior cobertura política como também de revigoramento tecnológico, orçamentário e operacional para transformar o famoso potencial em produtos de mercado.

Sobretudo, há que se mudar a lógica do sistema produtivo do turismo. É preciso investimento para maior participação das comunidades no resultado socioambiental e econômico do turismo. O mercado doméstico pode ser trabalhado como consumidor inteligente para um dinâmico ecoturismo de base comunitária. Todo o entorno de Belém pode se beneficiar de uma política de desenvolvimento sustentável tendo o Turismo comunitário por âncora. O estado tem 12 regiões de integração, onde se destacam os polos turísticos de Belém, Marajó e Tapajós. Belém e Marajó compartilham a mesma paisagem cultural.

Comparando, por exemplo, Costa Rica e Marajó.

Em 1500, Marajó foi visitado pelo piloto Vicente Pinzón que capturou 36 escravos entre os indígenas da ilha grande do delta-estuário do Amazonas. Costa Rica foi descoberta em 1501 pelo próprio Cristóvão Colombo. Segundo o padre Antônio Vieira, existiam aproximadamente 50 mil índios marajoaras no século XVII, divididos em pelo menos sete etnias [Anajás, Aruãs, Cambocas, Guaianás, Mamaianás, Mapuás e Pixi-Pixis]. Em Costa Rica tinha três grupos indígenas [güetares, chorotegas e borucas].

Em luta contra os rivais Tupinambás e colonos portugueses, Marajó só foi pacificado por missão dos Jesuítas, em 1659. Transformado em capitania hereditária, em 1665, assim mesmo só em 1680 os portugueses conseguiram ocupar a ilha com a criação de gado. Em Costa Rica o ouro usado em ornamentos indígenas atraiu os espanhóis sob o comando de Bartolomeu Colombo, irmão do descobridor. Expulsos pelos indígenas, só em 1530 os castelhanos conquistaram a região. Antes de se tornar província da capitania-geral da Guatemala, em 1540, a Costa Rica chamou-se Nova Cartago. Independente em 15 de setembro de 1821, uniu-se ao México, durante três anos, e fez parte da Federação Centro-Americana, em 1824, dissolvida em1838.

Marajó no período de independência do Brasil tomaria parte importante no movimento nacionalista de adesão do Pará e na revolução paraense, dia a Cabanagem (1835-1840). Formada por um arquipélago de 65 mil km² de extensão e território continental, a mesorregião Marajó soma 104 mil km² no total. Costa Rica com 51,1 km² excede pouca coisa do tamanho da ilha do Marajó, todavia enquanto a população total dos 16 municípios marajoaras não ultrapassa a 500 mil habitantes, a população costarriquense é de mais de 4 milhões de habitantes, com uma renda per capita de US$ 9.887 e elevado IDH de 0,854, 95,9 da população alfabetizada.

Com esta ligeira comparação, se quer dizer que a história tem sido madrasta da primeira cultura complexa da Amazônia – a Cultura Marajoara de 1500 anos de idade (cf. www.marajoara.com ) e que o ecoturismo se tornou a salvação da lavoura na Costa Rica podendo se tornar uma referência para o desenvolvimento sustentável da região Marajó, caso haja vontade política suficiente. O naturalista Alexandre Rodrigues Ferreira, em fins do século XVIII, viu em Marajó o potencial de uma província e nos anos de 1960 pecuaristas marajoaras começaram a propalar a ideia de criação de um Território Federal do Marajó, desmembrado do Pará, seguindo exemplo do antigo município paraense de Amapá (hoje o Estado do Amapá). Na Câmara dos Deputados tramitou projeto de criação do dito território federal, desta vez com pouca inclinação dos marajoaras em seguir a onda separatista ao lado do Tapajós e de Carajás. O governo Ana Júlia Carepa estabeleceu política de integração estadual capaz de compensar o retardo do interior paraense em relação à Capital, historicamente concentradora.

Em apenas três anos e meio, a política estadual de integração deu sinais de ir ao rumo certo da desconcentração e do desenvolvimento integrado do território de todo o estado. Marajó, umbilicalmente ligado a Belém, é a prova real desta política. Diferenciado na própria Constituição do Estado do Pará (§2º, VI, art. 13) o povo marajoara aponta ao potencial ecoturístico da região como a plataforma política do desenvolvimento sustentável que o exemplo da Costa Rica comprova. Para tanto é preciso ousadia que o anúncio da Secretaria estadual de turismo pode indicar.

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